Memórias de uma geleia derretida

Eu Sou Ozzy

“Diziam que eu nunca escreveria este livro. Bom, que se fodam- porque aqui está ele. Tudo que preciso é me lembrar de algo… Droga, não consigo me lembrar de nada. Oh, só dessas coisas…”

É com essa honestidade e ironia, com que um dos maiores ícones da história do rock e da música, Ozzy Osbourne, abre sua autobiografia, onde reúne lembranças do que sobrou das memórias de sua geleia derretida (termo usado para referir ao seu cérebro), que mesmo apresentando “falhas no sistema”, consegue trazer um revelador panorama de como conseguiu ser uma figura tão amada durante várias gerações, apesar de ter feito cagadas catastróficas.

O livro de 384 páginas, escrito com a ajuda de Cris Ayres, lançado no final de 2010, é divido em quatro fases: sua infância e adolescência em Aston, a formação e o estouro do Black Sabbath, o rompimento com a banda e o início de sua bem sucedida carreira solo, e a loucura da mega exposição trazida pelo reality show The Osbournes.

Na primeira fase, o então John Osbourne fala de sua infância numa família de origem humilde e que mal possuía um banheiro em sua casa, e também como era difícil de se relacionar com as pessoas devido ao seu déficit de atenção e inquietude. Logo na sua adolescência surgem as primeiras enrascadas, como quando foi condenado após ser flagrado roubando uma loja de eletrodomésticos, a ir para um reformatório onde ficou por seis meses.

Para tentar dar um jeito na sua vida, como qualquer mero mortal, John teve de procurar trabalho, de afinador de buzinas de carros ao frigorifico, fica claro que o único caminho que poderia tirá-lo de uma vida miserável era o da música.

Muito antes de virar o fenômeno transcendental e marco inicial do heavy metal, o Black Sabbath teve de passar por uma estrada cheia de pedras no caminho rumo ao estrelato, como é bem retrado nos tempos em que o agora Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward se apresentavam como Earth.

Da guinada a partir do dia em que viram uma multidão fazendo fila na porta do cinema para o filme que daria seu novo nome, aos bastidores das gravações dos discos e dos shows, começa a aparecer uma presença mais constante de drogas das mais pesadas, que inflamaria o ego dos músicos e culminaria na iminente saída de seu frontman.

Quando tudo parecia estar acabado para o Madman, surge na sua vida a figura de sua futura esposa e amada Sharon, filha do empresário Don Arden, fundamental para que sua carreira fosse a diante e com registros tão deslumbrantes como nos tempos de Sabbath.

Nos tempos em que frequentava ótimos dentistas. (Foto de divulgação para o disco Bark At The Moon de 83).

Nos tempos em que frequentava ótimos dentistas. (Foto de divulgação para o disco Bark At The Moon de 83).

E quem acha que a histórias de brigas com a esposa, abusos de álcool e substâncias ilícitas das mais pesadas, o estúpido acidente que vitimou o grande guitarrista Randy Rhoads, o acidente nas gravações do clipe “So Tired”, a decapitação de um morcego num show e a de uma pomba numa reunião de negócios, ficariam de fora, engana-se, e assim como a abertura de seu livro (e deste post), o cantor traz um relato minucioso até onde sua memória deixa de cada um dos fatos.

A mesma amada que tanto o ajudou, também foi a mesma que o convenceu a entrar numa das maiores roubadas de sua vida: The Osbournes. O reality show da MTV norte-americana que escancarou a intimidade sua família, foi um tremendo arrependimento na sua vida, por além de invadir sua privacidade, reforçar a imagem de múmia zumbi ambulante que mal sabe manusear um controle remoto.

Seja para amantes do rock, fãs de carteirinha, ou amantes de música e biografias de grandes personalidades, “Eu Sou Ozzy” é um livro de cabeceira obrigatório, do qual seu viciante e criativo texto o fará ter dificuldades de se despedir dele ao fim da leitura.

 

 

 

 

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