Quando o monstro mostrou sua força

Em um franco documentário, o Metallica mostra em detalhes como superou suas crises e seguiu sendo a maior banda de heavy metal da história.

Em um franco documentário, o Metallica mostra em detalhes como superou suas crises e seguiu sendo a maior banda de heavy metal da história.

No início dos anos 2000 nem o mais fervoroso fã do Metallica acreditaria que a banda conseguiria superar sua crise, não chegar ao fim, superar traumas do passado, finalizar um álbum, dar a volta por cima e, o mais incrível, registrar tudo isso de uma forma surpreendentemente franca no documentário Some Kind Of Monster (EUA, 140 min).

Os indícios de que o fim estava próximo eram vários: logo no início da década a banda decidiu processar o Napster, servidor de downloads de músicas na internet, e o baterista Lars Ulrcih, veio a público exigindo a cabeça dos usuários, que, segundo ele, “pegaram sua música, sem pedir permissão”, o que gerou a ira de vários fãs e o transformou em um dos rockstars mais odiados da época. Para piorar, a banda concedeu em abril de 2001 uma entrevista para a Playboy norte americana, na qual cada membro foi fazendo declarações mais bombásticas que o outro, revelando vários problemas e ruindo ainda mais a relação interna do grupo.

Como desgraça pouca é bobagem, quando tudo estava pronto para as gravações do seu novo disco e do documentário, uma bomba cai sobre a cabeça de todos: após 14 anos, o baixista Jason Newsted, deixa o Metallica para se dedicar a sua nova banda, o Echobrain, onde poderia finalmente ter a sua liberdade musical, que poucas vezes usufruiu no período em que esteve no grupo.

Temendo pelo pior, a Q-Prime trata de contratar o terapeuta Phill Towle, especialista em lidar com atletas de egos inflados e que precisam trabalhar em conjunto, para tentar ajudar os cabeças do grupo a se relacionarem melhor e não deixarem a casa cair.

Isso tudo rola, com exceção da menção da entrevista da Playboy, apenas nos 20 minutos iniciais do filme!

Problemas durante a gravação.

Problemas durante a gravação.

Qualquer um enxergaria ali naquele cenário que o processo de gravação do sucessor de Reload (1997) seria completamente diferente e o mais complexo dos demais. Talvez neste quesito haja um empate técnico com o antológico Black Album e, quando as gravações começam num presídio, James Hetfield já demonstra que não tem a inspiração para compor de outrora, Kirk Hammett também está na mesma sintonia e Lars se irrita frequentemente com todo o material.

Para amenizar um pouco os problemas, o produtor Bob Rock toca baixo no disco e muda o processo de gravação: agora todos têm a participação na composição das letras, dão opiniões e fazem literalmente tudo junto na gravação. O que poderia ser uma alternativa de união e produtividade, só faz piorar as coisas.

Em um determinado momento, a velha batalha de egos de Hetfield e Ulrich vem à tona: quando o vocalista/guitarra base diz para o baterista que ele deveria fazer o seu papel de manter o ritmo e fazer um som mais “sólido” e o mesmo retruca dizendo que está tentando fazer algo de diferente na música e diz que a sua guitarra está comum. Após o bate boca, James deixa a sala irado batendo a porta e não volta mais. E não volta mais mesmo: durante seis meses, ele fica internado numa clínica de reabilitação, para tratar de seu vício em bebidas alcoólicas, pondo em risco o futuro não só do novo trabalho, como o da banda.

Incrivelmente é a partir daí, que o Metallica resolve enfrentar seus medos e problemas de frente e começa o lento e tortuoso processo de volta por cima: depois de 19 anos, finalmente, Lars e Dave Mustaine, primeiro guitarrista do grupo e líder do Megadeth, têm uma conversa franca sobre a “demissão” do guitarrista e sobre como isso o atormentou durante anos; James mostra seu lado mais “pai de família” quando depois de seu tratamento vai visitar sua filha numa aula de balé e mostra como isso foi importante para sua recuperação; Kirk mostra como a vida pacata do campo e o surf o ajudaram a manter seu equilíbrio e, mesmo estando p’s da vida com seu terapeuta, o trabalho de Phill começa a dar resultados e o álbum finalmente começa a ganhar vida.

A capa de St. Anger.

A capa de St. Anger.

Quando finalmente St. Anger foi lançado, o disco conseguiu ser um sucesso de vendas em vários Países e foi bem recebido por parte da crítica, porém, o resultado não foi aquilo que os fãs esperavam: muitos criticaram a ausência de solos de guitarra, o som de lata de tinta da bateria e a precariedade da produção.

Mas o fato é que mesmo com todo o revés, o trabalho é um dos mais interessantes da carreira do Metallica, com ótimas músicas como a faixa-título, Frantic, a que dá nome ao documentário, All Within My Hands, e Sweet Amber; além de trazer um som bem cru de banda de garagem, que serviu de alavanca para seu ótimo sucessor Death Magnetic, e o mais importante,  para achar um baixista definitivo para o grupo: Robert Trujillo.

A nova e atual formação: Robert Trujillo baixo, Kirk Hammett guitarra solo, Lars Ulrich bateria, James Hetfield vocal/guitarra base.

A nova e atual formação: Robert Trujillo baixo, Kirk Hammett guitarra solo, Lars Ulrich bateria, James Hetfield vocal/guitarra base.

Tendo corrido o risco de soar fake e um tanto quanto teatral, afinal de contas uma pessoa não consegue ser ela mesma o tempo todo com uma câmera e microfone por perto toda hora, aqui ocorre o oposto disso, pois tanto os momentos de alegria como os de dor são mostrados pelos músicos de uma forma bem natural.

O único erro dos cineastas Joe Berlinger e Bruce Sinofsky, foi o de estender algumas cenas desnecessárias como: o leilão dos quadros da coleção de Lars, e deixar algumas bacanas de fora como: a ida de Kirk para a auto escola, Rob Trujillo tocando uma espécie de ukelele com o sogro de Kirk e a ida de Lars à sua velha casa de infância na Dinamarca, que estão presentes nos extras da versão dupla do dvd.

Seja para os fãs, ou não, Some Kind Of Monster é um ótimo documentário, que mostra que, assim como os deuses do Olimpo grego, os grandes ídolos e heróis também têm suas fraquezas e têm de enfrentá-las com todas suas forças para se manterem vivos mais fortes do que nunca.

FICHA TÉCNICA

Diretor: Joe Berlinger, Bruce Sinofsky

Elenco: Kirk Hammett, James Hetfield, Dave Mustaine, Jason Newsted, Bob Rock, Phil Towle, Robert Trujillo, Lars Ulrich, Torben Ulrich.

Produção: Joe Berlinger, Bruce Sinofsky

Fotografia: Wolfgang Held, Robert Richman

Trilha Sonora: Kirk Hammett, Kirk Hammett, Metallica, Bob Rock, Lars Ulrich

Duração: 140 min.

Ano: 2004

País: EUA

Gênero: Documentário

Cor: Colorido

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