Festa Titânica

Documentário dirigido por Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves mostra em detalhes a trajetória de sucesso dos Titãs.

Um termo que achei perfeito para definir os Titãs veio de meu amigo Rogério Vaz, quando certa vez ao falarmos da banda ele disse: “Cara, os Titãs é a união de oito gigantes do rock nacional numa banda só!” E a melhor forma de entender e saber com mais afinco sobre o grupo que é um dos maiores dor rock nacional (e ouso dizer do rock internacional também!), e o porquê meu amigo Rogério utilizou este termo para definir de forma exata a genialidade da banda, é assistindo o excelente documentário Titãs-A Vida Até Parece Uma Festa.

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Alter Ego Frustrado

Livro traz retrato autobiográfico às avessas de Tony Bellotto

“Pense no cu. Por que cu termina em u? Há um motivo. É a mesma coisa com as bucetas. O segredo está no u. U tem cheiro. U tem gosto. Até a palavra oficial do cu, ânus, tem lá seu u. Que beleza de palavra: ânus. Sente a sonoridade?”- Tony Bellotto, No Buraco.

Quando o parágrafo acima foi dito na entrevista que Tony Bellotto concedeu a Amaury Jr em seu programa, um exemplar vendido do livro No Buraco já estava garantido. O talento de Bellotto como guitarrista e compositor nos Titãs é incontestável, compôs o hino da banda: “Polícia” e colaborou em outras grandes canções do grupo: Pra Dizer Adeus, Flores, Televisão, Domingo, O Pulso, Lugar Nenhum, Armas Pra Lutar, Bom Gosto, Um Morto De Férias, etc. Agora minha curiosidade era ver se ele tinha o mesmo dom como escritor (mesmo sabendo que sua série policial Bellini é bem sucedida, o primeiro livro virou filme) e o recém lançado livro seria uma boa pedida.

A história narrada em primeira pessoa retrata a vida de Teo Zanquis, uma espécie de auter ego às avessas de Tony Bellotto, que foi um guitarrista de uma banda de rock brasileira dos anos 80, chamada Beat-Kamaiurá que obteve apenas um sucesso com seu disco Totem Rachado, o hit Trevas De Luz. Porém o sucesso logo passou e Téo agora leva uma vida miserável aos 50 anos, freqüentando sebos no centro de São Paulo, vivendo à custa dos direitos autorais de seu hit e com a ajuda de sua mãe que sofre Alzheimer, bebendo seus chopes, cheirando seu pó, morando numa quitinete  e vez ou outra dedilha alguma coisa em Isabel (nome que batizou sua guitarra, após receber uma punheta homérica de uma noviça do mesmo nome quando sua banda foi fazer um show no interior do Paraná).

O livro começa com o capítulo de nome sugestivo: A Questão Das Bocetas. Onde o personagem está com a cabeça enfiada num buraco na praia de Ipanema, conversando consigo mesmo e relembrando momentos do passado, que incluem desventuras com sua banda na estrada, transas inesperadas e picantes, vício em drogas, idas a programas de auditório, problemas enfrentados em alguns shows, viagem aos EUA  para encontrar o túmulo de seu ídolo Jimi Hendrix e relatos de seu cotidiano, que vai caminhando sem muitas ilusões.Porém há um sinal de esperança de que a vida de  Teo Zanquis ira melhorar quando ele entra no sebo Combat Records e conhece a jovem coreana e fã de rock Lien.

Seu relacionamento amoroso com Lien provoca uma grande reviravolta na história, que começa no segundo e último capítulo: O Segredo Do Cannoli. Um dia, a jovem deixa um envelope com um pen drive, que incrimina seu irmão Chang Ho (um hacker que cria um mega sistema de downloads ilegais na internet.) para que Zanquis o guarde para ela. Depois disso há perseguições de coreanos à sua pessoa para pegar o cannoli (modo que ele batizou o pen derive, em homenagem ao filme O Poderoso Chefão) e na busca pela sua amada que desapareceu após pedir o “favor”, quando ele vai à casa de Lien se depara com uma cena desagradável: O corpo de Chang Ho está todo ensangüentado no meio da sala, ele está morto! A partir deste momento o livro ganha um tom policial e um desfecho incrível e surpreendente.

O grande trunfo e a sacada do livro foi a idéia de Tony Bellotto fazer um retrato autobiográfico sendo o oposto da sua vida e carreira, o fato de narrar à história de maneira precisa, com um humor ácido, as descrições bem detalhadas das memórias sexuais do personagem, as referências pop que  fazem o leitor se sentir na pele de Teo Zanquis e o desfecho que traz o inesperado.

Para os fãs dos Titãs, de rock n´roll, literatura policial e de romance mais intenso, e que curtem ler um livro de uma “sentada só”, No Buraco é uma excelente dica literária e um livro de cabeceira essencial.