De acordo com o autor norte-americano Ray Bradbury, seu clássico da literatura Fahrenheit 451, nada mais era que uma crítica direta ao poder de alienação da TV nas pessoas, e de como isso causava o desinteresse nelas pelo hábito da leitura de livros.
Mal podia imaginar o escritor que 65 anos após a publicação de seu livro, uma adaptação dele para um telefilme escorregaria feio na missão de atrair um novo público e não faria jus à sua obra.
É bem verdade que o filme da HBO tinha todos os elementos para dar certo: um bom elenco, produção de primeira e um roteiro que poderia ampliar as questões críticas do livro somando elementos sociais atuais.
A essência da trama em si é até fiel; na história que agora se passa num futuro bem próximo, o bombeiro Guy Montag (Michael B. Jordan) é encarregado sob o comando do Capitão Beatty (Michael Shannon) na missão de queimar livros a uma temperatura de 451º F (232º C), ideal para realizar o trabalho de incineração da grande ameaça a tranquilidade de uma sociedade onde o ato de uma simples leitura é criminoso e pode levar ao caminho da perdição.

Com Beatty e Montag missão dada é missão cumprida!
Com uma fotografia de estilo neo-noir, que tenta trazer uma atmosfera mais urbana, e um conflito entre agito X solidão, o tiro acaba saindo pela culatra, e em vários momentos fica ruim de ser ver o filme que fica perdido em meio a tons escuros demais.
O elenco no geral possui atuações de medianas para OK; Michael B. Jordan entrega um trabalho protocolar que não compromete, mas que fica longe daquilo que pode render, assim como a atriz Sofia Boutella, que em contrapartida a doce e instigante Clarisse do livro, aqui traz uma personagem muito sem sal.
Porém o roteiro é que mais decepciona: em vários momentos há barrigas que prejudicam o andamento da trama, e se no original havia uma crítica mais direta à alienação da tv e uma solução simples e criativa para que o legado da literatura não morresse, aqui é substituída pelo vício das redes sociais e vigilância constante na internet (que num primeiro momento funciona bem, mas depois fica inócua), e por uma solução rocambolesca envolvendo DNA e natureza.
E nem vamos entrar nas decisões equivocadas de deixar Mildread e Faber de fora, e o ameaçador Sabujo ser substituído por um drone!
De positivo fica a atuação de Michael Shannon, que entrega um personagem ameaçador, enigmático e de figura fraterna, e que é mais bem desenvolvido que no livro; as cenas de ação, em especial as do começo, e os efeitos especiais que são ótimos, além de uma trilha sonora que casa bem alguns momentos.
Infelizmente no frigir dos ovos (ou dos livros, como queira), o que fica é um filme meia boca, que não deixará uma experiência memorável, e que decepciona por não entregar aquilo que promete.
Ficha Técnica
Direção: Ramin Bahrani
Elenco: Ramin Bahrani, baseado no livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury
Roteiro: Michael B. Jordan, Michael Shannon, Sofia Boutella
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Duração: 100 min