Logo na orelha do livro o leitor já é advertido do coquetel molotov que está prestes a explodir; nele ele irá descobrir como Steven Adler conheceu Slash aos 13 anos de idade, tentou entrar na Marinha, dos abusos sexuais que sofreu aos 14 anos, como salvou Nikki Sixx de uma overdose, transou com a irmã de Tommy Lee, participou de uma orgia regida por Steven Tyler e de outra por Nick Sixx, e de sua expulsão do Guns N’ Roses.
Os chamativos (e impactantes) tópicos acima, são apenas os canapés de entrada da jornada de conquistas épicas e tragédias gregas que permeiam a vida do primeiro baterista gunner, muito bem relatadas em sua autobiografia lançada no Brasil em 2015 pela editora Edições Ideal: Meu Apetite Por Destruição-Sexo, Drogas e Guns N’ Roses.
Nascido em Cleveland, em 22 de janeiro de 1965, Michael Coletti teve um começo de vida difícil; seu pai biológico Mike era de um temperamento explosivo com sua mãe Deanna, que cansada das agressões do marido, se separou dele e partiu com o pequeno Michael e o filho mais velho Tommy para a casa de sua mãe, saudada aqui pelo baterista carinhosamente de “Big Lilly”.
E “Big Lilly” era linha dura: de origem judia, não queria saber dos nomes italianos dos netos herdados do pai, sob seu teto teriam de mudar suas assinaturas, e assim Michael virou Steven e Tommy agora era Kenny.
Um pouco depois entra na vida deles Mel Adler, que finalmente era a figura paterna que aquela família tanto precisava, e tudo parecia ter um final feliz na vida do pequeno Steven com a mudança para Los Angeles.
Mas, na cidade do pecado é que começa o início da jornada de destruição: o comportamento delinquente na escola, os primeiros contatos com drogas, sexo precoce e a primeira expulsão de casa.
Olhando assim, a trajetória de Steven Adler tinha tudo para se encerrar antes da hora, mas em meio ao furacão que estava se tornando em volta de seu universo particular, começa a despontar elementos que o levariam para o estrelato: sua paixão por bandas lendárias como o Aerosmith, Rolling Stones, Kiss (o qual teve a sorte de conferir in loco a gravação do cult trash “Kiss Meets The Phantom Of The Park), Journey que o levam a querer ser um rock star, e amizade inesperada num tombo de skate e mais tardiamente após uma expulsão na escola com um jovem Saul Hudson.
Ainda estamos um pouco menos da metade do livro quando estes fatos são relatados, e a leitura a cada página fica cada vez mais viciante, a ponto de ler ele todo de uma só vez.
E quando entra o Guns N’ Roses na jogada, aí o banquete fica ainda mais irresistível: a formação da banda, os primórdios na Hell House, as primeiras viagens, a preparação do material que viria a ser o antológico “Appetite For Destruction”, as primeiras grandes turnês, trazem tantos detalhes curiosos e bacanas que dá a sensação de estar ali ao lado dos caras vendo a história ser feita.

Alcançando o topo no comando da bateria do Guns N’ Roses.
Nesse ponto da obra, Adler não poupa ninguém, escreve seu relacionamento de amor e ódio com integrantes, as quantidades nababescas de drogas consumidas, as orgias com as groupies, e de planos e traições que culminariam em sua expulsão da banda em junho de 1990, quando estavam gravando os “Use Your Illusion” I e II.
Os anos 90 aliás, não foram nada generosos para o ex-senhor das baquetas gunners: logo após sua saída da banda teve sua chance de ir para o AC/DC melada por uma entrevista de Axl na MTV, sua banda Roddie Crew não conseguiu um contrato com uma grande gravadora graças aos seus vícios, e em 1996 sofreu um AVC que comprometeu sua fala.
Muitos fãs reclamaram que a autobiografia termina “de repente”, sem deixar uma mensagem ou conclusão; na verdade Steven deixa bem claro que sua trajetória não chegou a um ponto final para tirar conclusões, e que sua luta pela vida continuará até seus últimos dias.
Se há um porém no livro, são alguns momentos de incoerências de datas, em especial na transição de 1988 até 1990, num vai e volta que poderia ser facilmente resolvido numa revisão final do editor.
Com um relato honesto, Steven Adler transmite uma sensação de ser aquele amigão, que apesar de ter feito atitudes desprezíveis, possui qualidades e um carisma que fazem a gente querer ajuda-lo e ter por perto para aquela resenha!
Seja para os fãs do Guns N’ Roses, rock, ou de uma história de vida fascinante, esta é uma autobiografia essencial de se ler e ter na estante.
FICHA TÉCNICA:
Título: Meu apetite por destruição – Sexo, Drogas e Guns N’ Roses
Ano: 2015
Idioma: Português
Páginas: 304
Autores: Steven Adler e Lawrence J. Spagnola
Fotos: Sim
Gênero: Biografia