Naves espaciais, carros voadores, telões em alta definição passando mensagens publicitárias, robôs, raio-laser, luzes neon, futuro distópico cyberpunk, corrida espacial e uma explosão de luzes psicodélicas são alguns dos ingredientes clássicos de grandes obras de ficção-científica.
Mas se há algo que chama bastante atenção em “O Homem Duplo” (EUA, 2006), além de sua técnica de filmagem, é o fato de trazer uma história que vai além dos elementos convencionais do gênero.
Baseado no livro “A Scanner Darkly”, lançado em 1977 pelo genial Philip K. Dick (autor de obras como Blade Runner, O Vingador Do Futuro, Minority Report- A Nova Lei e Os Agentes Do Destino), a trama do filme dirigido por Richard Linklater (Jovens, Loucos e Rebeldes, Escola do Rock e Boyhood) se passa sete anos num futuro onde o policial Fred (Keanu Reeves), sob o manto de um uniforme camaleônico, fica incumbido de descobrir quem são os responsáveis pela poderosíssima droga viciante do momento: a “Substância D”.
Conforme vai se aprofundando na investigação, Fred começa a se confrontar com seu alter ego Bob, e seu vício na substância proibida o coloca em choque com seus amigos viciados, e que também aparentam ter uma vida dupla: o militante paranoico Jim Barris (Robert Downey Jr.), o chapado Ernie Luckman (Woody Harrelson) e sua namorada Donna Hawthorne (Wynona Ryder).

Técnica da “rostocopia digital” é um dos elementos que chamam a atenção em “O Homem Duplo”.
A opção de Linklater em trabalhar com a técnica de rotoscopia digital, técnica que pinta os atores e cenários quadro a quadro, dando uma impressão de graphic novel em movimento, se mostra um grande acerto por ressaltar os detalhes mais humanos da trama, assim como a excelente atuação do elenco, com destaque para Keanu Reeves, Robert Downey Jr., Wynona Ryder e o excelente Rory Cochrane (aqui no papel do alucinado Charles Freck).
E assim como mencionado no início deste post, é no roteiro que aprofunda mais no lado humano e dramático, que “O Homem Duplo” concentra sua força. Escrito pelo próprio diretor, a história consegue transmitir bem a mensagem de tristeza e tensão causada pelo uso abusivo de drogas, que Dick e seus amigos vivenciaram (com alguns sendo derrotados pelo vício) durante a juventude.
Porém, a obra peca em alguns aspectos, como o de não saber tirar um melhor proveito de sua trilha sonora, feita pelo sempre genial e criativo Radiohead, a qual só se tem uma noção de seu potencial enquanto rola os créditos. O fato também do personagem Charles Freck aparecer pouco em tela, e não ter um arco mais explorado até seu poético e psicodélico desfecho, mostra mais um potencial inexplorado.
No fim das contas fica a impressão de que o filme consegue cumprir sua missão: ser uma obra a altura da genialidade de seu autor, e mais do que isso: consegue ser uma redenção na tentativa de curar as dores de tristes perdas, sem soar piegas demais, e isso é um motivo mais do que louvável para conferir este ótimo filme!
Ficha Técnica
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater
Elenco: Dameon Clarke, Heather Kafka, Jack Cruz, Jason Douglas, Keanu Reeves, Marco Perella, Melody Chase, Mitch Baker, Robert Downey Jr., Rory Cochrane, Steven Prince, Winona Ryder, Woody Harrelson
Produção: Anne Walker-Mcbay, Erwin Stoff, Jonah Smith, Palmer West, Tommy Pallotta
Fotografia: Shane F. Kelly
Duração: 100 min.
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estúdio: Thousand Words
Classificação: 16 anos