A Disneylândia do Headbanger

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Elvis Presley, Beatles, Rolling Stones, Cream, The Doors, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Janis Joplin, Steppenwolf, Cream; encontrar um lugar para comprar um disco destas grandes lendas para um fã tupiniquim apaixonado por rock, numa era bem distante da internet, era a mesma sensação que uma criança de 10 anos tem quando adentra na Disney.

Em 1978, esse sofrimento seria amenizado, com aquela que viria a se tornar a Disneylândia do Headbanger: Woodstock Discos. Inaugurada pelo apaixonado por rock n’ roll e colecionador dedicado Walcir Chalas, a loja começou a funcionar na Rua José Bonifácio, nº 176, loja 16, São Paulo capital.

Num primeiro momento, Walcir colocou a venda sua coleção dos Beatles, Stones, Elvis, Sex Pistols, e resolveu pagar pra ver no que aquilo iria dar. O movimento foi começando a crescer, e o estoque até então limitado foi ganhando corpo, a ponto de seu proprietário ter de ir para Londres em 1982, para a aquisição de novos discos.

Woodstock Discos em seu primeiro endereço.

Woodstock Discos quando funcionava na Rua José Bonifácio, nº 176, loja 16.

Deparando-se com o auge da NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal), com o Iron Maiden lançando o clássico “The Number Of The Beast” e seu então novo vocalista Bruce Dickinson, o AC/DC pavimentado cada vez mais seu caminho com “For Those About Rock”, e o Scorpions aumentando seu fã-clube com o revigorante hard rock de “Blackout”, Walcir viu que ali começava uma nova e visceral cena musical, e que a Woodstock Discos poderia ser a conexão brasileira dela.

O cenário do rock no Brasil ganharia uma força descomunal com a primeira edição do Rock In Rio, que apresentaria Ozzy Osbourne, AC/DC, Whitesnake, Iron Maiden e Queen para uma nova legião de fãs.

Antenado com o zeitgeist que o evento histórico de Roberto Medina criou, Walcir muda sua loja para Rua Dr. Falcão, nº 155, Anhangabaú, num espaço bem mais amplo, justamente dois após o show do Iron no Rock In Rio, em 21 de janeiro de 1985.

Nesse novo capítulo em diante, a Woodstock Discos viria a influenciar uma legião, cujos alguns membros viriam se tornar importantes nomes do rock nacional e internacional.

Fachada da loja em 1989, no seu endereço definitivo: Rua Dr. Falcão, nº 155, Anhangabaú.

Fachada da loja em 1989, às vésperas dos primeiros shows do Metallica no Brasil, no seu endereço definitivo: Rua Dr. Falcão, nº 155, Anhangabaú.

Tamanha importância história e cultural não poderia ficar renegada a memória nostálgica de seus antigos frequentadores, e em 2014 o jornalista Wladimyr Cruz lançou seu documentário Woodstock- Muito Mais Que Uma Loja.

Contando com depoimentos de figuras como Iggor e Max Cavalera (Sepultura, Cavalera Conspiracy), Andreas Kisser (Sepultura), João Gordo (Ratos de Porão), Marcos Kleine (Ultraje a Rigor), Felipe Machado (Viper), Gastão Moreira (MTV, TV Cultura, Kiss FM, República do Kazagastão), Ricardo Batalha (Roadie Crew), Ricardo Mendonça (89 FM), de ex-funcionários e fãs, o documentário traz um apanhado geral dos seus primórdios aos nossos dias.

É interessante observar o carinho com que cada um fala do reduto, sempre ressaltando a alegria de não só encontrar o disco que tanto procurava, ou a revista com a matéria da sua banda favorita, mas também o fato de se sentirem incluídos num grupo com pessoas que compartilhavam a mesma paixão e gostos, tirando um enorme peso das costas de uma sociedade que considerava esses jovens como uma pária.

Os depoimentos são entrelaçados com imagens de arquivos, como fotos e vídeos de shows realizados pela loja, pastas de revistas colecionadas por fãs, e as famosas sessões de autógrafos que chegaram a levar para a Woodstock Discos nomes consagrados como Mötorhead, Ramones, e um estourado Sepultura no auge com Chaos A.D.

Mesmo sendo um verdadeiro deleite para os fãs de música (principalmente do rock clássico, metal, e que a apreciam a moda antiga), o documentário peca um pouco por durar mais de duas horas, o que o deixa em certos momentos um tanto arrastado.

Apesar disso, vale muito a pena conferi-lo, e descobrir preciosidades como essas:

  • 500 fãs, em média, iam todos os sábados na loja
  • Walcir chegou a trazer certa vez, 700 discos numa única remessa de Londres.
  • O disco mais vendido da loja na verdade foram dois: Use Your Illusion I e II, do Guns N’ Roses, em 1991. No primeiro dia de venda, em menos de cinco horas todas as 3.000 cópias de cada volume haviam sendo vendidos, como cada disco era duplo, 12 mil bolachões haviam sido adquiridos.
  • 86 discos foram lançados pelo selo Woodstock Discos.
  • 4.000 fãs compareceram na sessão de autógrafos realizada em 1994 pelo Sepultura, em divulgação ao seu disco Chaos A.D. lançado no anterior.
  • 100.000 dólares foram pagos a indústrias estrangeiras para prensarem os discos do selo da loja, já que após o Plano Cruzado, as gravadoras não liberavam mais vinis virgens.
  • Walcir Chalas tinha tanta moral com os headbangers brasileiros, que chegou a ter um programa chamado “Comando Metal” na 89 FM, e apresentou por seis meses o Fúria Metal na MTV.

Fonte: Judão.

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