Com uma extensa e rica discografia, fica difícil escolher um álbum para simbolizar uma carreira como a do Kiss; sabe aquele papo do pai e a mãe que não consegue eleger o filho favorito numa numerosa família? Pois é.
Mas, se tem uma obra prima dos quatro caras de rostos pintados de Nova Iorque que merece ser focada para fazer o debut do grupo aqui no blog, não tem como ser outra escolha: Destroyer.
É bem verdade que o primeiro êxito comercial e responsável por tirar Gene Simmons, Paul Stanley, Ace Frehley e Peter Cris do limbo comercial, foi Alive! de 1975, porém, o disco que cravaria os caras como lendas vivas só sairia no ano seguinte.
O impacto de Destroyer já começa por sua incrível capa, com uma ilustração de Ken Kelly, primo do artista Frank Frazetta, na qual a banda parecia ter saído de alguma HQ do mestre Stan Lee.
A arte expressiva fez com que muitos moleques dos quatro cantos do mundo se identificassem de cara com os “heróis mascarados”, mas não era só esse elemento que o disco tinha de incrível: a música registrada no disco era mais do que primorosa.
Para dar o passo além, o Kiss recrutou para a produção do álbum o renomado Bob Ezrin, que já havia mostrado seu talento como produtor com mitos como Lou Reed e Alice Cooper.
Na visão de Ezrin, a banda era uma “caricatura de tudo o que mobiliza a juventude”, e pressionou os músicos a irem além dos sons feitos nos discos anteriores.
Tal pressão teve grandes resultados, com verdadeiros hinos imortais, que traziam consigo desde música flamenca a balada “levanta isqueiro” nos shows.

Na crista da onda em 76: no alto o vocalista e guitarrista base Paul Stanley, o baterista Peter Criss, o guitarrista Ace Frehley e o baixista e vocalista Gene Simmons.
Logo de cara a faixa de abertura é um tiro de bazuca na cara: Detroit Rock City. A monumental faixa composta por Stanley e Ezrin teve como inspiração um triste fato ocorrido com um fã que viajava para ver um show da banda em Detroit e morreu em um acidente de carro.
Com um fragmento de “Rock N’ Roll All Nite” na versão de Alive! também chama a atenção na faixa o solo de flamenco executado por Ace. O título da canção ainda ficaria mais marcante com o filme homônimo de 1999.
“King Of The Night Time World” continua a acelerar 200 km/h com seu riff poderoso e refrão pegajoso, sendo mais uma trilha perfeita para uma festa rocker. Já “Good Of Thunder” por mais que tenha a autoria de Paul Stanley, virou mesmo uma marca registrada do baixista e vocalista Gene Simmons.
A faixa com introdução de vozes infantis e bateria militar, é uma verdadeira presença obrigatória nos set list dos shows, levando o público a cantar empolgadamente com o linguarudo.
“Eu rio cada vez que ouço essa faixa”, confessaria o produtor do disco ao biografo da banda, Ken Sharp, sobre “Great Expectations”, uma verdadeira viagem da banda a música erudita, com ares de gospel.
“Flaming Youth” é mais uma daqueles faixas chicletes gostosas de sair cantarolando o refrão, ou deixar tocando mentalmente, assim como a rasgada “Sweet Pain”.
Na faixa de número 7, mais um clássico colossal da banda e ponto altíssimo em qualquer apresentação ao vivo: “Shout It Out Loud”. Que ficaria ainda mais marcada na mente de pequenos e futuros fãs, ao servir como despedida de uma apresentadora de programa infantil quando embarcava em sua nave.
Uma grande surpresa, e belíssimo hit da banda neste trabalho ficariam a cargo do baterista gatuno Peter Criss, com “Beth”. A parte de orquestração que deu um brilho extra foi magistralmente executada pela Orquestra Filarmônica de Nova Iorque.
Diretamente de Los Angeles, o produtor Kim Fowley ajudou (além da segunda faixa) no encerramento com “Do You Love Me?”. E para aumentar o tempo de duração do disco, foi acrescentada uma colagem de sons no início e no fim- misturando o coral de “Great Expectations” e arranjos de faixas anteriores com um pedaço de Alive! .
Hoje o disco está com seu lugar reservado no hall dos “clássicos imortais do rock”, e serve como prova viva da genialidade e talento do Kiss em oferecer entretenimento de qualidade.