Tendo obras que engloba problema de memória, traições no mundo da magia, a ciência do sonho, e o fantástico renascimento artístico do homem-morcego, Christopher Nolan não precisa provar mais nada para ninguém de que é um dos maiores cineastas de sua geração.
A confiança no diretor é tanta, que os fãs mais ardorosos já criaram a alcunha: “In Nolan We Trust”. Essa condição de prestígio permitiu que fosse possível a realização de sua incursão no universo da ficção científica: Interestelar (Interestellar, 2014).
O roteiro co-escrito com seu irmão e parceiro de longa data Jonathan, de início era pra ter sido tocado por Steven Spielberg, mas, por desistência do projeto, coube aos Nolan sua execução.
E a trama tem elementos (principalmente o primeiro ato) que entregam bem as evidências de encomenda para Spielberg: Num futuro nada animador, a Terra foi reduzida a um imenso deserto de poeira, aonde os humanos vivem a base de milho, e para contornar esse caos, a NASA se vê obrigada a trabalhar numa missão clandestina.
A missão criada pelo professor Brand (Michael Caine) consiste na busca de possíveis planetas para que os habitantes daqui possam habitar num futuro. Para isso ele contará com a ajuda do ex-piloto Cooper (Matthew McConaughey).
Como um grande filme do gênero que se preza, Interestelar possui os elementos básicos para ser esplêndido: questionamentos sobre os rumos da humanidade, dramas pessoais, o ímpeto de desafiar as leis e afirmações da ciência, e a esperança de dias melhores.
Tudo isso é alimentado por aspectos técnicos fabulosos: uma fotografia ótima, a bela direção de arte que reproduz um planeta Terra bem catastrófico e realista, planetas de visuais espetaculares, reforçados pelos ótimos efeitos especiais, embalado pela grandiosa e genial trilha sonora do mestre Hans Zimmer.
Isso sem falar que aqui, Nolan atinge seu ápice de direção no que diz respeito à atuação de seus comandados, com mais um excelente trabalho (do cada vez melhor) Matthew McConaughey, e as ótimas Mackenzie Foy e Jessica Chastein, respectivamente a pequena e a adulta Murphy, filha de Cooper.
Porém, a mesma direção que enaltece a obra, é a mesma que junto de um roteiro didático até demais, quase bota tudo a perder, com a decisão de colocar a desnecessária duração de quase três horas (duas seria mais crível), e falas que entregam o óbvio que está bem na cara do espectador, como o momento em que Cooper descreve o que vê quando adentra o buraco negro. Fora a enésima explicação sobre a teoria do “buraco de minhoca”, a atuação um tanto quanto deslocada de Anne Hathaway, e os incômodos robôs/monolitos tributos de “2001”.
Desse uma limpada e reparada nos excessos, e teríamos uma megalomania eficaz, daquelas que a gente se vicia freneticamente e não cansa nunca de se ver.
Ficha Técnica
Gênero: Ficção Científica
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan
Elenco: Alexander Michael Helisek, Andrew Borba, Anne Hathaway, Benjamin Hardy, Bill Irwin, Casey Affleck, Collette Wolfe, David Gyasi, David Oyelowo, Ellen Burstyn, Elyes Gabel, Francis X. McCarthy, Jeff Hephner, Jessica Chastain, John Lithgow, Kristian Van der Heyden, Leah Cairns, Lena Georgas, Liam Dickinson, Mackenzie Foy, Mark Casimir Dyniewicz, Marlon Sanders, Matt Damon, Matthew McConaughey, Michael Caine, Timothée Chalamet, Topher Grace, Wes Bentley, William Devane, William Patrick Brown
Produção: Christopher Nolan, Emma Thomas, Linda Obst
Fotografia: Hoyte Van Hoytema
Montador: Lee Smith
Trilha Sonora: Hans Zimmer
Duração: 169 min.
Ano: 2014
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Distribuidora: Warner Bros
Estúdio: Lynda Obst Productions / Paramount Pictures / Syncopy / Warner Bros. Pictures