Tão emocionante quanto um gol aos 46, uma garota, um pôr de sol, a chuva no telhado, ou saciar a sede com aquele copo d’água, é ver um dos maiores ícones do Brock de volta ao instrumento que o consagrou, entoando canções que por décadas vem moldando gerações.
Após mais de 4 anos se dedicando ao excelente projeto Pouca Vogal, Humberto Gessinger agora resolveu assumir de vez sua carreira solo, que para muitos já existia sob o codinome dos Engenheiros em épocas de constantes mudanças de formação, e lançou um novo disco em que volta as suas raízes rock n’ roll com boas pitadas de música gaúcha.
Ontem (10/8) foi a oportunidade dos fãs de fé da cidade de Uberlândia e região poderem ver o músico acompanhado de uma super competente banda, composta por Rafael Bisogno (bateria e percusão) e Esteban Tavares (guitarra, violões, backing vocals), darem vida a Insular e aos grandes clássicos dos tempos de Engenheiros do Hawaii e Gessinger Trio.
Se no PV o clima mais intimista e acústico ditava o tom, aqui o Power Trio toma o caminho contrário e manda a ver num som plugado na junção baixo, guitarra e bateria, que injeta a dose certeira de rock no show.
HG começou suas atividades no palco do Acrópole com um grande hino entoado sempre a vozes que superam o vocal original: “Até o Fim”; ouvir a letra verso por verso cantado numa voz só somada com a harmônica do músico foi um golaço logo aos 3 minutos do primeiro tempo!
Na sequencia uma boa surpresa, com a excelente “Armas Químicas e Poemas”, que puxa a primeira sequência do trabalho solo: “Tudo Está Parado” (primeiramente conhecida com a versão do Jota Quest, mas na opinião deste blogueiro, muito melhor aqui) e “Bora”.
Se a segunda música do set foi uma surpresa, o que dizer então do interessante lado B “Ilex Paraguariensis” de 95, que obteve uma ótima reação do público que lembrava bem da canção.
A faixa-título do disco de 2002 “Surfando Karmas & DNA” vem com a força necessária de abrir o terreno para a primeira pedrada da noite, aquela que não é só um mega hit do grupo gaúcho, mas uma obra prima do rock nacional dos 90’s: “Eu Que Não Amo Você”!
Caramba, como mesmo depois de 15 anos, a canção que abre o ótimo “¡Tchau Radar!”, tem uma força revigorante a ponto de mexer com nossas emoções, igual a sua primeira audição!
Uma mais lenta pra recuperar o fôlego? Que nada, “O Sonho É Popular” só engata a primeira para Ando Só arrebentar de vez com nossos pulmões, cordas vocais e emocionar ainda mais a alma das mais de 3 mil pessoas presentes.
“Sua Graça” é mais uma do trabalho do ano passado a marcar presença, e na 10º música do set list, um clássico inconfundível no baixo, harmônica e violão que grudam na mente, e que até hoje tem o “Uouoooo” cantado Brasil a fora: “A Revolta Dos Dândis I”.
Depois do hino de 87, mais uma do Insular, com “Ponte Para O Dia”, seguida do lema dos amantes as causas perdidas: “Dom Quixote”. “Somos Quem Podemos Ser” abre o momento Gessinger no acordeom, e emula os tempos de parceria com Duca Leindecker, e a esta se seguem “De Fé” e “Piano Bar”.
Justamente num dos momentos mais lindos da noite, uma retarda, que não posso considerar uma verdadeira fã, invade o palco e pula em HG como uma chimpanzé drogada de laboratório clandestino, interrompendo o show e desplugando alguns cabos. Após ser retirada, o show continua e na tradicional homenagem a um ícone do cancioneiro popular nos versos “no táxi que me trouxe até aqui, … me dava razão”, ouço pela segunda vez ao vivo um tributo ao grande Renato Russo.
Após o clima voltar ao normal, mais um balaço é disparado da sanfona branca: “Terra de Gigatntes”, para alegria e comoção geral dos habitantes da distante ilha de Uberlândia.
“3X4”, “Nuvem” presença surpresa de “Minuano” e “Tchau Radar” precedem o momento de inclusão de três dádivas do monumental “O Papa É Pop” de 1990: “Pra Ser Sincero”, balada favorita de 20 em cada 10 fãs dos Engenheiros, e os mega, ultra, power hits “O Exército de Um Homem Só I” e “O Exército de Um Homem Só II”, ensandeceram de vez o Acrópole.
No tradicional pedido de mais um, Gessinger, Bisogno e Tavares voltam para tocar “Dançando no Campo Minado” de 2003, e a onipresente “Refrão de Bolero”. Já no segundo e último bis, dois tiros de bazuca certeiros: “Toda Forma de Poder”, com um pesado baixo de HG, e a filosófica “Infinita Highway”.
Mesmo tendo ficado quase rouco, e louco de emoção, um incômodo durante a apresentação tirou um pouco o seu brilho: a ausência de canções do disco “Gessinger, Licks & Maltz” que engrandeceriam ainda mais o evento.
Quem sabe não aos ouço junto com meus amigos e companheiros de fé, numa possível volta dos Engenheiros do Hawaii com os próprios GLM? Pois este é um sonho que ainda podemos ter e teremos, mas enquanto ele não vem, já somos bem agraciados com uma excelente carreira solo de um gênio!
Muito bom o texto, colocando de vez o que foi realmente o show. Show irretocável para nós fãs “De Fé”.