Os deuses da sétima arte ultimamente andam muito generosos com os cinéfilos, pois há tempos não se via um fim de ano recheado com ótimas opções, daquelas que valem muito a pena pagar o ingresso para adentrar numa sala escura de projeção.
E um dos grandes motivos que temos para celebrar esse momento de “generosidade”, é Capitão Phillips (EUA, 2013), filme de Paul Greengrass, estrelado por Tom Hanks baseado no livro de Richard Philips e Stephan Talty, que retrata o sequestro do barco mercantil Maersk Alabama feito por piratas somalis.
Logo no início da trama, Greengrass mostra que sua obra é muito mais que um filme de ação, quando retrata dois mundos completamente opostos: de um lado está o capitão Richard Phillips (Tom Hanks), que está a caminho do aeroporto com sua esposa Andrea (Catherin Keener) falando do futuro de seus filhos, enquanto do outro lado do planeta, cidadãos da Somália que vivem num estado miserável e desumano, são recrutados para uma missão pirata que garantirá comida e dinheiro para aquele povo.
Ao chegar no navio, Phillips começa seus trabalhos de forma direta e extremamente profissional, fazendo os procedimentos padrões para que tudo dê certo na viagem e a carga que o navio transporta chegue em seu destino final.
Mas no meio do caminho, e já alertado sobre o perigo dos piratas da região, duas lanchas se aproximam do Maersk, que numa perseguição onde estratégia e determinação andam lado a lado numa sequencia incrível, os somalis liderados por Muse (Barkhad Abdi) conseguem subir abordo e sequestrar parte da tripulação.
Três fatores mais do que evidenciam que a ação marítima poderá faturar alguma estatueta do Oscar: o primeiro, e mais evidente, é a atuação brilhante de Tom Hanks, que consegue fazer um processo de evolução de seu personagem de acordo com o ritmo da história que o consagra de vez no panteão dos monstros sagrados da atuação, e junta-se a ele a grata surpresa que é o trabalho de Barkhad Abdi , que mesmo em sua estreia como vilão faz um grande trabalho de coadjuvante; em segundo está a direção de Greengras que soube fazer um filme que não soasse como político demais e nem uma ação frenética sem pé nem cabeça, tudo ali está na dosagem certa; e por fim o roteiro adapto por Bill Ray que traz diálogos certeiros e com críticas ácidas ao capitalismo, como na parte em que Phillips diz a Muse que ele pode ser mais do que um pescador, que de imediato retruca em tom de ironia: “Talvez na América, irlandês, talvez na América, na Somália não.”
Justamente em um dos grandes méritos do filme é que está uma falha que tira um pouco do seu brilho, ao faltar um pouco de fôlego quando o resgate do capitão se aproxima e alguns momentos na baleeira ficam um pouco monótonos; a trilha também ficou um pouco aquém em certos momentos, quando poderia ajudar a engrandecer e tornar antológicas certas cenas.
Capitão Philips é um dos casos atípicos de badalação hollywoodiana (assim como Gravidade) que tem de ser visto no cinema, e que não merece ter a atenção e apreciação do público dispersa a ver navios.
Ficha Técnica
Gênero: Drama
Direção: Paul Greengrass
Roteiro: Billy Ray
Elenco: Amr El-Bayoumi, Angus Maclnnes, Anthony Rios, Bob Dio, Catherine Keener, Chris Mulkey, Corey Johnson, David Warshofsky, David Webber, George J. Vezina, Gigi Raines, IanRalph, John Magaro, Kapil Parikh, Kristin Waluk, Len Anderson IV, Louis Mahoney, Marc Anwar, Mark Holden, Max Martini, Michael Chernus, Peter Landi, San Shella, Suzanne Prunty, Terence Anderson, Thomas Grube, Tom Hanks, Tom Mariano, Vincenzo Nicoli, Will Bowden, Yul Vazquez
Produção: Dana Brunetti, Michael De Luca, Scott Rudin
Fotografia: Barry Ackroyd
Montador: Christopher Rouse
Trilha Sonora: John Powell
Duração: 134 min.
Ano: 2013
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Distribuidora: Sony Pictures
Estúdio: Michael De Luca Productions / Scott Rudin Productions
Classificação: 14 anos