Fazendo justiça

Lançado em 93, terceiro disco do RPM, traz um som mais pesado e influenciado pelo grunge.

Lançado em 93, terceiro disco do RPM traz um som mais pesado e influenciado pelo grunge.

No fim de março de 2010, em uma das reuniões com J.Júnior para planejar o que viria a ser este blog, uma das ideias que tinha em mente e estava presente nos meus rascunhos para possivelmente colocar em prática, era a de uma coluna chama “Fazendo justiça”, onde discos subestimados da música nacional e internacional seriam analisados; e o disco que abriria ela seria Paulo Ricardo & RPM, de 1993.

Com apenas Paulo Ricardo e Fernando Deluqui da formação original, com a adição de Marquinho Costa na bateria e Franco Júnior nos teclados, o terceiro disco de estúdio da banda produzido pelo renomado produtor Mayrton Bahia, que não pode sair com o nome RPM devido a uma ação na justiça de Schiavon, traz um som mais pesado, calcado na guitarra de Deluqui, sem overdubs, bem orgânico e com influência da cena grunge de Seattle.

O sucesso deste trabalho foi curioso: a crítica elogiou bastante, destacando o timing da banda e o som coeso, e houve uma grande repercussão na mídia na época, graças a videoclipes, músicas nas rádios, apresentações em programas de TV e um especial da MTV; porém, o público não correspondeu às expectativas, os shows da turnê foram mal sucedidos e o disco vendeu cerca de 100 mil cópias (um fracasso para os padrões da época).

Formação que gravou o disco: Fernando Deluqui (guitarra e backing vocal), Paulo Ricardo (baixo e voz), Franco Júnior (teclado) e Marquinho Costa (bateria).

Formação que gravou o disco: Fernando Deluqui (guitarra e backing vocal), Paulo Ricardo (baixo e voz), Franco Júnior (teclado) e Marquinho Costa (bateria).

A faixa de abertura, e um dos hits do disco, é um balaço e grande clássico da banda: “Pérola”. Com um grande riff de Deluqui, a balada possui uma excelente melodia e ritmo, e se difere das demais devido ao peso dos arranjos, com destaque também para a bateria de Marquinho, e sua letra bem escrita, que descreve a musa perfeita; o clipe da canção é de ótima qualidade, e chegou a fazer sucesso na MTV. Sem sombra de dúvidas esta não só é uma das melhores músicas do grupo, como também da história do rock nacional.

“Gênese” é a música de maior sucesso radiofônico, graças ao fato de ter sido incluída na trilha da novela global das 19h “Olho no Olho”; na trama ela embalava as cenas do vilão Fred (Nico Puig), onde ela realmente caía como uma luva para criar o clima de tensão e ação. Com uma letra que meio que previu a onda paranoica e apocalíptica que nos assola hoje, nela é retratada uma situação que beira o fim do mundo, onde pessoas têm sua fé questionada, a dúvida se o caos está acontecendo fica no ar, onde as pessoas deixam de viver suas vidas e a veem passando de forma passiva; a música é bem pontuada pelo teclado dark de Franco Júnior intercalado com o solo de Deluqui e o baixo de Paulo Ricardo.

“Só eu sei onde vou, sexo e drogas e rock n’ roll, nunca foi nem será, I Can’t Get No Satisfaction..” Os versos podem parecer de uma banda juvenil que irá se apresentar pela primeira vez na feira de ciências, mas não se engane, pois “Veneno” é uma grande música, com um excelente solo de Deluqui, um de seus melhores por sinal, onde o mesmo ao final faz um backing vocal “a la” Ike Turner, encerrando ela com chave de ouro.

Já na quarta faixa, temos a prova perfeita de que é possível fazer uma balada com um sentimento verdadeiro, com uma letra romântica, sem ser piegas e idiota, como muitos (infelizmente) fazem hoje. Com uma letra perfeita, e um arranjo suave e gostoso de ouvir, “Surfista Prateado”, que foi inspirada no personagem da Marvel, mostra uma forma de amar sincera e universal, e é uma excelente dica para ser uma forma de se declarar para aquela pessoa especial. Chegou a ser a terceira música de trabalho do disco, mas não teve grande êxito, porém rendeu em uma das melhores apresentações do programa “Sábadão” do Gugu.

“O Fim” mostra porque Paulo Ricardo é um dos principais compositores do Brock; com uma letra inteligente e de forte crítica social a miséria, violência e ao capitalismo selvagem. É uma pena que ela seja ainda atual e que não tenha sido um hit, mas para nossa sorte ela ainda pode ser ouvida e perpetuada graças a world wide web.

“Outro Lado” é bacana, não chega ser excepcional, mas também não é ruim, serve para animar uma balada rock n’ roll e para ser o momento de tirar o pé do chão no show. Já “Hora do Brasil”, possui uma ótima pegada punk de Deluqui e um excelente timing da bateria de Marquinho, e mais uma vez traz um crítica ácida aos nossos “queridos” políticos, que muito trabalham, só que não, para o nosso progresso.

Tinha tudo para ser uma balada chorosa, melosa e brega, mas “Eclipse” passa longe, mas muito longe disso. Paulo Ricardo manda muito bem no vocal e no baixo e a participação mais do que especial do renomado saxofonista Léo Gandelman, dá um brilho a mais para a canção.

“Ninfa” é a música perfeita para se tocar em um lual, num clima descontraído, e com um lindo luar. A canção que tem um ar fantasioso com “fadas, ninfas, duendes e sereias do mar” ganhou um clipe que enfatizou essa ideia, porém de qualidade muito mediana, e foi regravada por Paulo Ricardo no cd “Prisma” de 2007, e no atual álbum da banda “Elektra”, de 2011, com uma pegada mais eletrônica e que não ficou com a qualidade da mesma de 93. A curiosidade aqui fica no crédito da composição: juntamente com P.R, P.A (Paulo Pagni) é um dos compositores da faixa.

A décima faixa “Trem” é a única música que destoa do resto do disco, com uma letra fraca, onde só se salva a guitarra. Quando a peteca parece que vai cair, “Vírus” chega com tudo, com uma letra a frente de seu tempo: pessoas introspectivas, fechadas no seu mundinho, com medo de se relacionarem e sistemas que captam nossos dados; perfeita para ser o hino de protesto contra a ridícula, fútil e inútil geração do “tenho meu iPhone e foda-se o resto!” somada a mais uma excelente performance de Deluqui, fecha de forma brilhante o disco.

Na versão do cd, há um bônus-track: “Falso Oásis”. Aqui temos uma das melhores introduções já feitas pelo RPM, bem inspirado no U2 a notar-se pela guitarra, com uma letra que critica os problemas sociais do Brasil.

Paulo Ricardo & RPM infelizmente está fora de catálogo (quem sabe um dia volta?!), porém, é facilmente achado em sebos o seu vinil, e todas suas canções estão disponíveis no You Tube. Se você é um fã da banda, ou de rock de qualidade, e topar com essa obra em algum canto virtual ou real deste planeta, não pense duas vezes, este é um disco que tem de ter um lugar cativo em sua discoteca!

6 comentários em “Fazendo justiça

  1. Esse sem sombra de dúvidas é um dos melhores cds do Rpm se não o melhor o mais Rock n roll dos caras Deluqui se sair excepcional nesse disco, cd recomendadissimo para quem quer curtir um som puramente rock do Rpm !

  2. Achei essa critica ao acaso, pois nem estava procurando nada sobre o RPM. Vivi todo o apogeu e problemas que a banda enfrentou nos anos 80 e tinha justamente essa percepção do quanto esse álbum foi injustiçado. E ele era muito antenado com seu tempo e não consigo vê-lo como datado mesmo 21 anos depois.
    Realmente a análise faz justiça!

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