
Dirigido por sua sobrinha, documentário retrata a vida e trajetória do maior líder esquerdista nacional.
Nos tempos de escola, lembro que uma das grandes dificuldades da minha professora de história era a de prender a atenção dos meus colegas nas aulas em que íamos estudar a história do Brasil. Se a 1ª e 2ª Guerras Mundiais, a Revolução Francesa, os egípcios, os gregos e os romanos conseguiam magnetizar a todos, quando a matéria mudava para o lado verde e amarelo, era aquela “luta”.
Ao contrário da maioria, sempre na contramão nesse sentido, ao invés de ficar empolgado com a história internacional, que também gosto, sempre ficava mais interessado na nossa, especialmente em dois assuntos: a era JK e o período da Ditadura Militar. Este último, sempre rendia muita coisa bacana, curiosa, intrigante e que geravam interessantes estudos. Vários nomes eram recorrentes quando se falava no assunto: Jango, Geisel, Médici, Figueiredo, Vladmir Herzog, Luís Carlos Prestes, Lacerda, etc.
Mas a figura mais intrigante desse quebra cabeça não era estudado, nem sequer citado em nota de rodapé nos livros de história: Carlos Marighella, ou Marighella. Líder comunista e inimigo nº 1 da Ditadura Militar, só fui descobrir sua existência e importância no último fim de semana, quando ao ir na locadora de meu amigo Gilberto, ele me indicou o documentário que retratava a vida do guerrilheiro baiano, e me chamou a atenção para o “cochilo” que tinha dado na aula de história, por não saber de quem se tratava.
Dirigido por Isa Grinspum Ferraz, sobrinha de Marighella, o documentário retrata a trajetória de seu tio desde sua infância em Salvador, sua militância no PCB baiano e nacional, sua atuação como deputado constituinte, as prisões e torturas e seu assassinato em São Paulo no ano de 1969.
Logo no início, em uma narração em off, Isa faz a mesma pergunta que eu me fazia mentalmente: “Quem era Marighella?” E através de depoimentos e imagens de arquivo, vamos sendo apresentados através de “pistas” a uma das figuras mais importantes do nosso país.
Entrelaçado com a narração de Lázaro Ramos, que cita os poemas e manifestos do revolucionário, com depoimentos de companheiros de militância e historiadores, dá para se ter uma boa noção do que se passava naquela época no Brasil e do caos que aqui se instaurava.
O documentário não é imparcial, pois não é ouvido o outro lado da moeda, mas, nem por isso é tendencioso e mitifica a figura do maior líder esquerdista nacional; como é feito de forma honesta e precisa, temos aqui um retrato humanista e íntimo, que mostra um cidadão que tem suas fraquezas e tristezas, como por exemplo, no momento em que Marighella se decepciona ao descobrir as reais intenções de Stalin e se desliga do Partido Comunista.
Chama a atenção também, o fato de que sua luta despertou um interesse no âmbito internacional, a ponto da CIA fazer uma investigação a seu respeito, com documentos secretos. Outro momento de impacto, é quando sua viúva Clara Charf diz que no período da ditadura nos anos 60, tinha de sair na rua toda maquiada e não podia nem sorrir, pois seu riso poderia a denunciar e chora por se relembrar daquele momento dramático.
Marighella é um ótimo documentário, que tem um importante papel no resgate da memória política nacional, que é muito fraca e ignorada pela nação, e que serve de lição para que jamais esqueçamos o preço alto que foi pago para que pudéssemos ter de volta um dos nossos maiores bens: a democracia!
FICHA TÉCNICA
Diretor: Isa Grinspum Ferraz
Elenco: – Narração de Lázaro Ramos
Produção: Pablo Torrecillas, Rodrigo Castellar, Isa Grinspum Ferraz
Roteiro: Isa Grinspum Ferraz
Fotografia: Alziro Barbosa
Trilha Sonora: Marco Antonio Guimarães, Mano Brown
Duração: 100 min.
Ano: 2011
País: Brasil
Gênero: Documentário
Cor: Colorido
Distribuidora: Downtown Filmes
Estúdio: TC Filmes / Texto & Imagem
Classificação: 10 anos