Várias variáveis de um sucesso

Livro de Gessinger traz olhar intimista sobre trajetória de sucesso do Engenheiros do Hawaii.

A data é 11 de janeiro de 1985, Humberto Gessinger (então guitarrista), mais Carlos Maltz (bateria) e Marcelo Pitz (baixo), fazem o primeiro show do Engenheiros do Hawaii que, numa coincidência do destino, ocorre no mesmo dia da aber­tura do primeiro Rock in Rio, na faculdade de arquitetura de Porto Alegre.

Após algumas apresenta­ções em bares da capital gaú­cha e viagens pelo interior do estado a banda entra na co­letânea Rock Grande Do Sul, da gravadora BMG, com a música “Toda forma de poder”. O grupo que era para “durar uma noite só”, consegue um con­trato com a companhia que garante a gravação de seu pri­meiro disco em 1986: “Longe demais das capitais”.

A primeira formação da banda, assinando o primeiro contrato: Humberto Gessinger (vocal e guitarra), Carlos Maltz (bateria) e Marcelo Pitz (baixo).

O álbum desperta o inter­esse sobre a banda fora do Sul, com as músicas Sopa de Letrinhas, a faixa-título, e Crôni­cas. No ano seguinte a primeira mudança na formação: sai Pitz e entra o guitarrista que daria uma guinada no som do Engenheiros: Augusto Licks; com isso Gessinger vai para o baixo, na gravação do segundo e clássico álbum ‘A Revolta Dos Dândis”, que traz grandes hits, como a faixa-título, Refrão de Bolero, Terra De Gigantes e o hino Infinita Highway.

Formação Clássica: Humberto Gessinger (vocal e baixo), Augusto Licks (guitarra) e Carlos Maltz (bateria).

Com o trio Humberto Gess­inger no baixo, Augusto Licks  na guitarra e Carlos Maltz na bateria, o Engenheiros do Ha­waii crava de vez seu nome na história da música nacional com belíssimas e grandiosas canções e uma sequência im­pressionante de discos de ex­trema qualidade: “Ouça O Que Eu Digo Não Ouça Ninguém” de 88, “Alívio Imediato” (o pri­meiro ao vivo) de 89, “O Papa É Pop” (disco de maior suces­so comercial, que vendeu na época mais de 350 mil cópias) de 90, “Várias Variáveis” de 91, ‘Gessinger, Licks e Maltz” de 92 e “Filmes de Guerra, Canções de Amor” de 1993.

Em 94, após uma tentativa frustrada de Augusto em reg­istrar o nome da banda para si, somado a discussões internas e incompatibilidades musicais, ele sai do grupo e Gessinger e Maltz prosseguem com o En­genheiros, com mais uma mu­dança de formação: Fernando Deluqui (na época ex-RPM) na guitarra, Paolo Casarin no acordeom e teclados e Ricardo Horn na guitarra, juntos eles gravam o disco “Simples De Coração” , lançado ao final de 1995.

Simples de Coração: Carlos Maltz (bateria), Ricardo Horn (guitarra), Fernando Deluqui (guitarra), Paulo Casarin (acordeom) e Humberto Gessinger (baixo e vocal).

Essa formação dura um ano, e o baterista e um dos funda­dores do Engenheiros do Ha­waii, Carlos Maltz, sai da banda no início de 97. As mudanças de formação tornam-se frequentes, rendendo alguns trabalhos interessantes, com destaque para o ótimo disco “¡Tchau Radar!” de 99; posteriormente no ano de 2004, com o lançamento do “Acústico MTV”, Humberto e seus companheiros conseg­uem uma nova guinada na car­reira e conquista uma legião de novos fãs.

Gessinger Trio, em 96: Adal Fonseca (bateria), Humberto gessinger (vocal e baixo) e Luciano Granja (guitarra).

Formação de 99: Luciano Granja (guitarra), Humberto Gessinger (baixo e vocal), Adal Fonseca (bateria) e Lúcio Dorfman (teclados).

Após lançar o álbum “No­vos Horizontes” em 2007 e fazer a turnê de divulgação do mesmo, Gessinger resolve dar uma pausa no Engenheiros. Em 2009, ele se junta a outro roqueiro gaúcho, Duca Lein­decker, líder da banda Cidadão Quem, formada em 1990, com sete discos e um DVD lançado. Além do trabalho a frente do Cidadão, Duca já desenvolveu trilhas para o cinema e o teatro; assim é formada a dupla Pouca Vogal.

Na verdade, a história do duo tem sua origem na década de 80: enquanto Hum­berto dava início a sua nova banda, ele conheceu Leinde­cker, que passou na casa do primeiro, para dar uma con­ferida numa Fender Telecaster e começaram ali a tirar um som. Anos depois, em 2004, eles fazem uma parceria musi­cal no DVD “Cidadão Quem No Theatro São Pedro”. Como Duca também deu uma pausa em sua banda, esperando a recu­peração de seu irmão e baixista Luciano, após um transplante de medula, assim se iniciou a trajetória do Pouca Vogal.

Pouca Vogal: Duca Leindecker e Humberto Gessinger.

Para contar de maneira intimista essa trajetória de sucesso, nada melhor do que alguém que esteve dentro deste fenômeno; assim, no início de 2010, quando a banda completou 25 anos, o frontman Humberto Gessinger lançou Pra Ser Sincero: 123 Variações Sobre Um Mesmo Tema.

Dividido em três partes, o livro traz a parte histórica, letras comentadas e um texto do professor Luís Augusto Fischer. Na parte histórica, Gessinger traz um texto cuja redação prende e vicia o leitor no livro de maneira tão hipnótica, que é possível lê-la em uma sentada só. Aqui somos apresentados pelo músico, escrevendo sobre desde seus primeiros anos, quando começava a praticar tênis, sonhava em ser goleiro, e quando perdeu seu pai aos 14 anos ao início do Engenheiros. A partir de 86, cada ano seguinte ganharia um capítulo, onde são mostrados bastidores da produção dos discos, shows, fatos curiosos e paradoxalmente relatos pessoais do cantor.

Na 2º parte, um verdadeiro prato cheio: 123 músicas, a maioria comentada por Humberto, onde ele descreve a mensagem que gostaria de passar com elas, sua inspiração, a forma como foram feitas, dados curiosos e mais algumas músicas inéditas são apresentadas. Por fim, um estudo de Fisher, onde o professor mostra a importância da obra dos Engenheiros e a força das composições de Gessinger.

Mesmo sendo um livro de excelente leitura, de projeto gráfico de encher os olhos, há uma sensação de que algo faltou: como o fato de não haver tantos fatos esclarecedores, como na turbulenta saída de Licks em 94 e a de Maltz em 97, relatos mais profundos de camarins dos grandiosos shows no Rock In Rio em 91 e dos shows Hollywood Rock, como se deu a parceria de Gessinger com outros artistas e afins.

Porém, poucas vezes se viu no cenário de biografias do rock tupiniquim, um livro que ganhasse um tratamento e de qualidade digna da grandeza de uma banda como o Engenheiros do Hawaii, o que o torna um item obrigatório na cabeceira de todo fã, headbanger, simpatizante, leitor e curioso por uma grande obra literária musical.

5 comentários em “Várias variáveis de um sucesso

    • Olá Pedro!

      No texto eu chego a citar a saída do Licks em 94, só não repeti ali no final onde só falei do ano da saída do Maltz, mas já acrescentei a informação novamente para não ficar dúvidas.

      Valeu pelo comentário!

  1. Realmente, uma ótima banda… em termos de letras são impecáveis, assim como a ótima composição das melodias, tornando cada música uma verdadeira obra-prima! Para mim, a melhor banda nacional de rock… =)

  2. Com certeza uma das melhores bandas nacionais de todos os tempos, apesar das divergências do passado gostaria de ver a formação original novamente tocando juntos.

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